terça-feira, maio 05, 2009

A hipocrisia dos hipócritas


O Presidente da República Federativa do Brasil saiu em defesa da “farra das passagens aéreas”, patrocinadas pelo Congresso Nacional. Segundo ele, não é correto usar os bilhetes para fazer turismo na Europa, e ainda afirmou que não considera crime algum usá-las para levar a mulher para a capital federal, isso porque, quando era deputado federal, pelos idos de 1986, usou a cota de passagens da Câmara dos Deputados, para levar sindicalistas a Brasília.

Agora, pressionado pelos líderes do Congresso, o então presidente da Câmara Federal do Partido do Movimento Democrático Brasileiro eleito pelo povo de São Paulo (PMDB-SP), e do presidente do Senado, também partidário da aliança do governo, com raízes no Maranhão, mas cadidatado e eleito pelo estado do Amapá (PMDB-AP), o Presidente da República Federativa do Brasil se dispõe a dar declarações públicas em defesa da moralidade do Congresso.

Ele disse: “Eu ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”. E disse mais: “Logicamente, guardar a passagem para ir à França é delicadíssimo, mas levar a mulher ou um sindicalista para Brasília, não vejo onde está o crime. Se esse fosse o mal do Brasil, o Brasil não tinha mal.”

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Rememorando:

Primeiro surge a denúncia de que a Câmara dos Deputados pagou passagens aéreas em nome de um deputado federal do Partido da Mobilização Nacional, eleito pelo Rio Grande do Norte (PMN-RN), para uma rica e famosa apresentadora de televisão, para sua mãe e outros artistas de televisão, que circularam pelos ares internacionais e motivaram a publicidade de um empreendimento próprio numa festa de carnaval fora de época.

Então, o presidente da Câmara, do PMDB-SP, anuncia que a Mesa vai fixar regras para o uso das cotas de passagens aéreas, mas logo depois, juntamente com o Senado legalizam a doação de bilhetes para parentes.

Aí vem a suspeita de que assessores parlamentares participaram de um suposto esquema de venda clandestina de bilhetes, e entre as vítimas, estaria o presidente do Supremo Tribunal federal (STF). Depois, o próprio presidente da Câmara, do PMDB-SP, admite que usou parte da cota de passagens aéreas para o transporte de familiares.

Pronto, o circo pega fogo. Metade dos 513 deputados federais teria usado a cota de passagens aéreas paga pela Câmara para fazer viagens ao exterior, e várias delas em companhia de parentes. No Paraná, 14 deputados fazem parte desta lista, então a Câmara e o Senado decidem que parentes não poderão mais usar bilhetes aéreos, só políticos e seus assessores.

Para o Presidente da República Federativa do Brasil, a imprensa dá muita importância a um assunto que é banal e que poderia ser resolvido pela própria Mesa Diretora da Câmara. ... (?!?).

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Francamente senhor presidente. Hipocrisia, fingimento de bondade de idéias ou opinião apreciáveis em favorecimento de uma devoção fingida, não fazem parte desse contexto assim qualificado para uma denúncia que foi veiculada em quase toda a imprensa nacional (com exceção da imprensa corporativa), e que colocou à tona para a população brasileira, a realidade da política dos desmandos, dos excessos e do esbanjo na qual uma parcela significativa de políticos se beneficia.

Retrocesso político senhor presidente, para o eleitor que acreditou na proposta de moralidade e ética ideológica pregada pelo Partido dos Trabalhadores na época em que almejava subir ao poder. Na verdade, a imprensa relatou nada mais do que a indignação do trabalhador brasileiro ao tomar conhecimento de que uma bela fatia do dinheiro público arrecadado através do suor do trabalho em forma de impostos, é aplicado em gastos profusos e usado no patrocínio do “vale mordomia”, para manter as questões políticas da Casa sob controle.

Vossa excelência está usando a sua popularidade para dar força aos seus aliados e minimizar os escândalos das passagens, como aconteceu com o caso dos mensaleiros e com o caixa 2. É bem verdade que não é de hoje que essas coisas acontecem, e que o Brasil carrega em sua história esse cancro político herdado desde da vinda da coroa portuguesa. O partido do governo abriu mão da reforma de hábitos políticos e do controle de gastos em troca da veleidade de se fazer política. Onde está a tese da reforma política, da reforma tributária que mudaria os hábitos da política no país?

É o mais do mesmo. A chegada ao poder não significou mudança política no país. O partido vive hoje da distribuição de poder aos aliados e da proteção aos mesmos. Passou a se apropriar de toda a deficiência política e de se aproveitar dessa mesma deficiência para controlar o Congresso. Hoje a base aliada é super heterogenia que não tem nada a ver com o programa de governo. Não existe mais nenhum projeto político a não ser a manutenção do poder, mas como mesmo se diz: política é assim mesmo. Não é presidente.

Hipocrisia é achar que não tem nada demais esse gasto exuberante com dinheiro público.

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