quarta-feira, novembro 25, 2009

Dar para receber


O fato é que a missão de paz da ONU (Organizações das Nações Unidas), constituída em 2004 para garantir o quadro das eleições, formar a polícia e restabelecer a ordem política no Haiti (o país mais pobre do Hemisfério Ocidental), foi renovado por mais um ano. O pacto comandado por um colegiado de 15 países, envolve tropas da Argentina, Bolívia, Uruguai, Chile e é comandada pelo Brasil.

Na visão da conselheira Gilda Neves, chefe de Divisão das Nações Unidas do Itamaraty, a saída da Minustah (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti - sigla em francês) seria prematura, pois o país demonstra “sinais de evolução” (sinais ínfimos) e poderia acarretar na eclosão e no surgimento de novos problemas sociais, embora exista, uma pressão muito grande por parte dos países desenvolvidos, para término dessas missões, pois são eles é quem pagam a conta, e a conta é muito alta.

Pelo planejamento do governo brasileiro que já gastou mais de R$ 700 milhões com a operação desde o início da missão, é de que a redução das tropas aconteça a partir de 2011, devido a cautela que a ONU tem através da experiência e do péssimo exemplo que aconteceu com países africanos.

A gravidade da situação do Haiti é séria (e nada é tão ruim que não possa piorar), pois além dos problemas sociais, o país foi atingido por quatro furacões nos últimos anos, que potencializou o atraso na sua recuperação (além castigar e causar a morte de 800 pessoas e de provocar prejuízos na cifra de US$ 1 bilhão). Agora, como um novo esforço para chamar a atenção, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, indica a participação do ex-presidente da república dos Estados Unidos, Bill Clinton (que na sua gestão, enviou 20 mil soldados americanos ao país, que retiraram do poder, o regime autoritário que havia deposto o então presidente Jean-Bertrand Aristide), como articulador que tem como objetivo, fazer progresso e criar oportunidades únicas de investimentos públicos e privados na obtenção de melhorias nas áreas de saúde e educação.

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O problema é que o Exército Brasileiro atua no papel de polícia, já que as Forças Armadas do Haiti foram dissolvidas em 1994 e ainda não reconstituídas (o que deixa os militares brasileiros muito expostos às questões de âmbito social e acabam vistos com arrogância, insolência e menosprezo pelos olhos da população). Essas tropas que tem como objetivo asseverar o quadro das eleições, formar a polícia local, garantir a estabilidade social e sair do país, acabam atuando como polícia repressora que ocasionou na morte de um estudante e mandou várias crianças e anciões para os hospitais devido ao excesso de gás lacrimogêneo despejado na população que protestava em favor do aumento do salário mínimo (para US$ 4 ao dia) aprovado pelo congresso haitiano.

A PNH (Polícia Nacional Haitiana) é o principal grupo de defesa do país que atualmente conta com um efetivo de 8 mil policiais treinados pelas Tropas de Paz chefiadas pelo Exército Brasileiro, que tem como meta, atingir um contingente de 14 mil e assim, cumprir com seu compromisso e afastar-se do país.

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A outra questão da problemática é aquela que envolve (a melhor das “boas intenções” do capitalismo selvagem) a missão comercial de empresários brasileiros liderada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit - que representa um dos setores da economia que mais sofreu com a desvalorização cambial e com a concorrência com produtos chineses), em garantir a participação no programa batizado de Hope (esperança), que se trata de uma ampliação da zona franca da industria têxtil desenvolvida pelos EUA onde visa a busca de parcerias para alcançar os mercados americano e europeu.

O programa consiste na intenção de fazer com que os empresários tenham uma boa possibilidade de exportar seus produtos devido a isenção de impostos aduaneiros com insumos de outros países (entre os quais o Brasil). Não se trata de fazer chover no sertão não. As empresas se movem aonde se tem a maior taxa de lucro.

Até ai, tudo bem, mas o detalhe é que nada vem de graça nesse globalizado capitalismo selvagem, pois, além da isenção total de impostos aduaneiros, o programa ganha na especulação da mão de obra, visto que 1 hora paga a um trabalhador norte-americano nas indústrias têxteis, equivale a 5 dias e meio de trabalho de um mesmo operário no Haiti.

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Em suma, o mandato que caminha para o sexto ano, se renova nos mesmos termos e essa ocupação não tem melhorado a situação da população. O problema do Haiti não é militar, não é um problema de guerra, e sim um problema de ordem, de desigualdade social e de concentração de renda. A situação do país tem se deteriorado. A cruz vermelha está com dificuldade de entrar nos locais onde se encontram essas tropas de paz. Ao todo, já se gastou mais de 2 bilhões de dólares com operação militar servida para reprimir. A política externa não tem uma política de solidariedade com o povo do Haiti.

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Ah! O Haiti é um país onde 80% de sua população vivem (sobrevivem) em situação de pobreza, sendo que 54% estão abaixo da linha da miséria total (em razão dos embargos sofridos durante anos por esses mesmos bem intencionados), além dos problemas de falta de infraestrutura básica, como portos e estradas. O salário mínimo hoje, não chega a US$ 1 por dia. As crianças fazem biscoito de terra para saciar a fome.
publicado 20/10/2009 15:50:44 - JM News

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