quarta-feira, janeiro 13, 2010

Observação das coisas do ano que findou


O papo é que muita chuva passou, mas a enxurrada de verdade aconteceu no âmbito político e na forma de escândalos para todos os gostos (escândalos com gosto de pizza; escândalos com gosto de panetones, e muito mais...). Abrimos o ano com a farra das passagens aéreas. Depois, veio a eleição de José Sarney, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, representante legítimo do estado do Amapá (PMDB-AP – que me perdoem os amapaenses mal informados que votaram em um candidato, coroné do Maranhão, que tem muitas papas na língua, algumas (...) coisas nas costas, muito dinheiro no bolso e com pouquíssima representatividade política para o estado que o elegeu), para a presidência do senado, e com alguns ressentimentos de traição que resultou em um vazamento de comportamento heterodoxo ou herético.

Logo em seguida, Tião Viana, senador pelo Partido dos Trabalhadores, representante legítimo do estado do Acre (PT-AC), emprestou seu celular corporativo para a filha viajar para o México e acabou por ressarcir em R$14 mil os cofres públicos, como forma de penitência para fugir de algo mais que abonasse a causa de algum processo de cassação por foro parlamentar (e assim funciona a máquina de arregimentação política do Congresso).

Depois, aconteceu os atos secretos, em que a atuação de Agaciel Maia (funcionário do Senado desde 1977, onde começou como datilógrafo e foi alçado, pelo então coroné do Maranhão, ao posto de Diretor Geral em 1995, o cargo administrativo mais alto da casa) foi fundamental na articulação de um volume considerável de contratações suspeitas em nome de segundos, terceiros, quartos e de José Sarney, que afirmou em público que não sabia o que era os atos secretos e que ninguém nunca soube disso. Então, tomamos conhecimento de que a “famiglia” Sarney, apropriou-se do Senado Federal e de parcelas estratégicas significativas da administração pública. Houve emprego para o neto, para o namorado da neta, para a neta, para a ex-mulher e pensão para o filho. Também houve pensão para a viúva do motorista que morava em apartamento funcional e para o mordomo da filha Roseana (ex-senadora e atual governadora do Maranhão pelo PMDB) que acumulou emprego de motorista no Senado, além dos primos e primas, numa privatização de um espaço púbico jamais vista no país após a saída da coroa portuguesa.

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A crise acabou por sufocar o Congresso, até que, o presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) sustentou a permanência de José Sarney na presidência do Senado em uma justaposição patética que colocou o seu aliado, Aloizio Mercadante (senador pelo PT-SP), numa saia justa, pois o mesmo revogou uma decisão irrevogável de renúncia (isto é, disse que iria renunciar e não renunciou). E a tal prometida Reforma Administrativa do Senado não saiu. Talvez porque a Fundação Getúlio Vargas (FVG) articulava o lobby de cortar alguns cargos comissionados, e isso, os senadores não aceitaram.

E o ano terminou com a mais extraordinária demonstração de como funciona o esquema de corrupção no país. Desta vez, em imagem de vídeo e a cores, com áudio de muito bom som, num verdadeiro filme de terror exposto em horário nobre na televisão da sala de estar, onde o governador do Distrito Federal (José Roberto Arruda – agora, sem partido) recebe pacotes de dinheiro de origem suspeita. Juntamente, na mesma condição quadrilheira, aparece também, o presidente da câmara distrital embutindo dinheiro ilícito nos bolsos do paletó e na meia.

O absurdo se concretiza quando o mesmo grupo de pessoas (corruptas) surgem (no vídeo) fazendo uma oração como forma de agradecimento pela propina recebida em uma imagem nunca antes posta em público nessa Terra Brasilis. Foram empresários pagando e funcionários extorquindo. Mas, o que realmente surpreende é o fato de que o governador do Distrito Federal (José Roberto Arruda – agora, sem partido e entupido de denúncias de corrupção) continua no mesmo lugar, isto é, no mesmo posto de governador distrital (e cheio dos desmandos quando mandou a cavalaria da Polícia Militar descer a borduna em um grupo de manifestantes que reivindicavam o impeachment). E como complemento, no último dia do ano de 2009, o presidente da câmara distrital, Leonardo Prudente, do DEM (o deputado da meia e que de prudência não entende nada), reassumiu a função na cadeira da presidência da Casa.

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Em suma; Do ponto de vista político, demos um passo atrás, ou melhor, nossos políticos (não quero generalizar), que, através do voto, obtiveram carta branca para representar a população na administração dos benefícios para uma melhoria na qualidade de vida e melhor distribuição de renda, apenas distribuíram melhor a renda em seus próprios bolsos. Só espero que as eleições deste ano possam renovar e promover uma mudança substancial neste quadro político manchado pelas péssimas e imprestáveis atuações, pois estamos vendo coisas que antes não víamos.

É bem verdade que o trabalho de investigação deu um salto considerável de qualidade, mas a punição ainda deixa a desejar. É necessário prevenção e um corte considerável nos cargos comissionados. É necessário impedir a candidatura dos ficha-sujas. É necessário uma reforma política inteira e não pela metade. Instrumentos nós temos, mecanismos para impedir a corrupção também, falta apenas vontade política.

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Ah! O governador José Roberto Arruda (sem partido e entupido de denúncias de corrupção) ainda não prestou depoimento no inquérito em que se apura a violação do painel eletrônico em 2001. Se o caso estivesse sido apurado e ele condenado, então ele jamais poderia se candidatar e se eleger a um cargo de grande responsabilidade, como é o de administrador público do Distrito Federal e ficaria assim, inelegível além de responder processo sujeito a uma sanção de maior punição. Mas a justiça é lenta e existe também o foro privilegiado.
publicado no JM News em 04/01/2010 22:41:15

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