quarta-feira, setembro 23, 2009

Corrida armamentista na América Latina? - (vamos ativar a nossa memória)

O fato é que aconteceu nesta semana, na cidade de Quito, no Equador, o encontro da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), um organismo criado para dinamizar e aproximar as discussões que envolvem os paises latino-americanos. E lá estavam reunidos autoridades, diplomatas, chanceleres e ministros da defesa, a fim de debater assuntos ligados à corrida armamentista em que nos envolvemos, e em que estamos dispostos a desembolsar, uma barbaridade em espécie (US$), para turbinar com aparatos de última geração o nosso videogamezinho bélico.

Mas o assunto que chamou a atenção foi justamente a falta de assunto sobre o que está acontecendo em Honduras, e deixa claro o subentendido de que um Golpe de Estado, tão recente, tão afrontoso, tão escandaloso (tão distante do princípio democrático), que invadiu a residência oficial na capital, Tegucigalpa, pelos militares, obrigando o presidente, ainda de pijama, a sair pela porta dos fundos, não cabe como prioridade na pauta de discussão.

Como se a consciência coletiva de uma sociedade que passou por experiências dramáticas que afrontaram e que castraram a liberdade de opinião e de expressão das pessoas (em meio aos anos ´60, na totalidade dos anos ´70 e início dos anos ´80), tenha sofrido um trauma resultante em um estágio de amnésia profunda.

Quando um Golpe de Estado que depõe um presidente legitimamente eleito (apesar de que, legitimamente, o mesmo trabalhava na articulação de um jogo político interno, onde se discutia as alterações constitucionais para permitir uma possível reeleição) desaparece da discussão política dos presidentes, dos ministros das relações exteriores, de instituições como a ONU (Organização das Nações Unidas), ou dos noticiários internacionais (favorecendo assim, o ostracismo nos meios de comunicação), é por que o planejamento, a ação, a logística e a prática de tomada de poder, surtiu efeito positivo para os golpistas.

Outros presidentes, outros congressos, outras sociedades e outras culturas, tratam do assunto da reeleição, ou do direito da reeleição de forma definitiva, dentro de um parlamento, nas livres discussões das ruas, nos sindicatos. O debate político aplicado em um conceito democrático e pós-moderno como a realidade da sociedade de hoje condiz. O Brasil mesmo, instituiu a reeleição não faz muito tempo e a vida segue, a vida continua, e la nave va.

Porém, lá em Honduras não! Lá aplicaram um golpe de estado e destituíram um presidente da república com a mesma característica truculenta praticada pelos militares nos anos de chumbo.

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E porque assim está e assim permanece. Esse assunto, que é da mais profunda e absoluta relevância, que atinge diretamente e indiretamente os interesses econômicos de uma grande parcela dos governos da América do Sul e América Latina, não entra na pauta de discussão de um organismo que se reúne para discutir o futuro dos países que compõe o continente latino-americano. O golpe foi feito e o presidente saiu pela porta dos fundos, tocado por uma quartelada local. E alguém sabe o que aconteceu? Ou o que está acontecendo em Honduras? O Brasil não comenta mais esse assunto, a Venezuela se espreita, a Colômbia observa, o próprio Equador, o Uruguai, o Chile, que já vivenciaram golpes, se mantém calados. Ninguém responde aos apelos do presidente (Manuel Zelaya) deposto, que agora sai por aí, com um chapéu engraçado, reivindicando aos sete ventos, o direito legítimo de voltar ao seu país, e que tudo isso não passa de um grande absurdo.

Ali, caberia sim, um ato coletivo de interferência, de intervenção, de reação e de resistência. Algo firme, algo duro, algo exemplar, para que o mundo, e especialmente os golpistas de plantão (principalmente da América do Sul), soubessem que este modelo não se aplica mais, que não dá mais para se colocar em prática. É necessário forçar um processo coletivo para democratizar Honduras e demonstrar que golpes militares não são mais toleráveis e compatíveis com o momento histórico atual.

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Em contrapartida, vem o comprometimento de quem está no meio de uma corrida armamentista pilotada (supostamente) de certa forma pela Venezuela, de Hugo Chávez, que tem acordo em comum com a Rússia, seguido pela Colômbia de Álvaro Uribe, que firmou acordo com as bases dos EUA (Estados Unidos da América) na aquisição crescente de equipamentos para as suas Forças Armadas. E agora, recentemente, vem o Brasil, no seu 7 de setembro, acenar com seus quatro dedos, e com um sorriso metálico, bélico e cheio de charme, um acordo tecnológico pré-firmado com a França (de Carla Bruni, digo:) de Nicolas Sarkozy.

Atualmente, dentro deste quadrante recente, a América Latina está gastando a bagatela de US$ 51 bi, com armamentos, equipamentos bélicos, caças, tanques, submarinos, radares, mísseis (como no caso da Venezuela), a fim de aprimorar e reequipar as Forças Armadas da região. A Venezuela, sozinha, está gastando cerca de US$ 7 bi.

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Ah! E lá vamos nós, los monositos, los burritos, los borrachos, los locos, los pobresitos, com nossos pés descalços e nossas bundas de fora, avante com nossos caças dotados de mísseis ar-ar, ar-terra e radares de última tecnologia, para explodir mutuamente a nossa Amazônia, o nosso pré-sal, o nosso orgulho nacional, o nosso ufanismo e nossas cabeças, por que afinal, de punta tener armas.

Não sei se é estranho ou indecente gastar tanto dinheiro em uma região tão miserável, com coisas tão inúteis quanto armas, mas afinal, em meio a tudo, estamos comprometidos na defesa de nosso espaço aéreo, do nosso mar territorial, da nossa soberania. E dada à tamanha extensão de nosso Brasil, seria necessário uma frota 100 vezes maior diante da obsolescência de nossos equipamentos.

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Seria mesmo a hora de investir nesse setor? E a Unasul, é um encontro que leva o nada a lugar nenhum?

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