sexta-feira, abril 23, 2010

A inépcia do poder público



O papo é que a morte do pedreiro psicótico e réu confesso que matou seis rapazes em Luziânia no estado de Goiás compromete uma série de investigações, além de revelar a fragilidade da tutela judiciária no Brasil.

Adimar Jesus da Silva, que foi encontrado morto na cela da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc - considerada a mais segura do estado de Goiás), com uma corda feita de tecido, estilo “Tereza”, em volta do pescoço (o que, para o padrão de execuções em prisões brasileiras não traz nenhuma novidade), revela uma debilidade que agrava e compromete uma situação de inquérito policial ainda a ser investigada.

O suposto suicídio não encerra a sindicância devido à questão de que existe a suspeita em que nem todos os corpos encontrados na Fazenda Buracão são dos seis jovens desaparecidos e, portanto, cabe a Polícia Federal concluir os exames de DNA (deoxyribonucleic acid), para que aja o cruzamento de informações.

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A metodologia aplicada na causa morte do pedreiro psicótico, onde o acusado aparece enforcado dentro de uma prisão no Brasil, não é tão incomum assim, e é obvio que a polícia irá abrir uma investigação científica para se chegar a uma conclusão que esclareça se o caso foi uma execução ou um suicídio.

É bem verdade que para muitos corações, haverá um sentimento de alívio, porque agora, se tem a certeza de que o criminoso que violentou e que matou à pauladas aqueles seis jovens da cidade de Luziânia se encontra sentado no colo do tinhoso, lá pelas profundezas do inferno.

Para essas pessoas esse sentimento que traduz uma espécie de vingança e de consolo, invade o coração e a mente como se dissessem: “Livramo-nos daquele canalha assassino e covarde”. Assim como, para aqueles que defendem a pena de morte no caso de crimes hediondos. Essa sensação, representa uma espécie de justiça, como aquela da Lei de Talião encontrada no Código de Hamurabi, olho por olho e dente por dente, ainda que o olho e o dente tenham sido acionados pelo próprio morto (caso seja comprovado o suicídio).

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Bem, mas o que eu quero dizer é que a existência e a morte desse assassino, desse psicopata, desse insano, desse louco, desse maníaco, revela um problema muito mais sério do que nos parece.

Esse cidadão que eventualmente se suicidou, ou que eventualmente foi assassinado em sua cela (o que para muitos é o que menos importa), trouxe à tona o maior dos problemas, que é a questão onde envolve a justiça brasileira e o sistema de pesquisa de avaliação psicológica dos presos que oferecem perigo real a uma sociedade, pois esse serviço simplesmente não funciona, ou se funciona, não oferece respaldo, ou então, deve ser revisto minuciosamente com todos os pormenores de conceito e conteúdo.

Onde estão os psiquiatras que assinaram o laudo onde atestava a salubridade e a higiene mental daquele indivíduo insensato colocando-o nas ruas. Ao contrário do juiz, esses “doutores” ainda não deram as caras e provavelmente dirão que agiram dentro dos parâmetros da medicina legal e da psiquiatria, além de jogar com a sociedade numa linguagem de prepotência.

O juiz que concedeu o benefício da liberdade condicional do pedófilo goiano declarou que agiu estritamente dentro dos parâmetros da lei. O Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, afirmou que as denúncias levadas ao Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) contra a situação do sistema prisional no Espírito Santo "envergonham o País". O diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Airton Michels, disse que não entra nessa política de terra arrasada e que esse discurso ele já ouve há 40 anos. O Senado Federal ainda está fazendo as convocações para depoimentos, pois existe uma crítica sobre a inépcia do poder público em matéria de custódia de presos.

Mas e agora, que a Inês está morta. Quem é que vai pagar por isso?

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Em suma; Tratem de se consolar as mães e os pais que perderam seus filhos daquela forma bárbara e cujo os filhos pequenos foram abusados sexualmente por aquele psicopata, que lá trás, por um motivo criminal, o levou para a cadeia numa condenação em que ele não cumpriu. E não cumpriu porque um juiz o colocou na rua. E só colocou na rua porque os tais psiquiatras (que até agora não deram as caras), assinaram laudos que deram margem ao juiz para conceder o benefício de uma liberdade condicional a um psicótico.

Agora, o fato é que esses jovens estão mortos. O criminoso morreu. As pessoas abusadas por ele e seus pais estão com traumas e a sociedade não se viu reparada por nenhum desses aspectos envolvidos nessa história.

Esse trauma social não se repara com a morte do assassino criminoso e, portanto, não se deve aplicar um ponto final nessa narração factual, muito pelo contrário, agora é hora de virar essa página e de começar uma nova história reconhecendo os erros e aplicando novos conceitos. Conceitos que perdurem com outros e novos patamares.

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Ah! Tudo isso se ele não tiver sido assassinado, porque senão agrava ainda mais a problemática da questão, pois, agrega mais um crime. Não é fácil admitir que estamos diante de um conjunto de barbáries perpetradas pelo Estado e, portanto, essas barbaridades precisam de respostas e necessitam de mudanças.


por Sandro Ostroski

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